COISA SUSPEITA(4)

Manoel um dia chegou
Do garimpo de manhã
O Manoel que eu estou falando
É o esposo da minha irmã.

Chegando em casa escondido
De um modo que ninguém gosta
Pulou o muro levando
Consigo um saco nas costas.

- Abra a porta foi dizendo
Apertando a campainha –
Pois eu não posso ser visto
Por essa gente vizinha.

A Mundica, sua esposa,
Acordou-se apavorada,
A gritos e campainha
Tão cedo de madrugada.

Mas era o Manoel,
Abriu a porta, a coitada,
Pra receber o esposo
Que veio da garimpada.

Assim que ela abriu a porta
Rápido ele pode entrar
Dizendo: Tu tens dinheiro
Pra uma cachaça comprar?

Manda comprar uma pinga
Daquelas que têm colar
Porque hoje é um dia de sorte
E eu quero comemorar.

Mundica lhe respondeu
Pouco eu tenho, muito não.
O dinheiro que me resta
Mal dá pra comprar o pão.

Esse é o meu último dinheiro
Manoel, presta atenção:
Se eu comprar a cachaça
Não sobra nenhum tostão.

Deixa o pão pra outra hora...
Anda logo não faz graça!
Preciso abrir este saco,
Manda comprar a cachaça.

Deixa de papo furado
Que eu não gosto de pirraça
Assim que a pinga chegar
Serve pra mim numa taça.

Mundica chamou um dos filhos
Mandou a pinga comprar
Rápido! Vai e não demora
Pois teu pai quer festejar.

O menino foi ao canto
E o bar fechado encontrou
Bateu e o dono abriu
E a cachaça comprou.

Assim que pegou a garrafa
Ao dono do bar pagou
E em fração de segundo
Pra casa logo voltou.

Quando Manoel viu a pinga
À Mundica ordenou:
Se alguém perguntar por mim,
Pode dizer que eu não estou.

Fecha as janelas e as portas
Para que Deus nos proteja
Porque quando eu abrir o saco
Não quero que ninguém veja.

E a Mundica fechou tudo
Porta janela e buraco
Estava doida pra saber
O que havia dentro do saco.

- Pronto, Manoel, já fechei
Porta e janela, meu bem!
Agora abra esse saco
Que eu quero saber o que tem!

E o Manoel sem ter pressa,
Junto do saco chegou,
Segurando uma peixeira
Que no armário encontrou.

Abriu o saco devagar
E colocou sobre a mesa
Deixando a humilde esposa
Morta de tanta surpresa.

Pra surpresa da Mundica
A carga que o saco tinha
Era somente LIMÃO
Para fazer CAIPIRINHA

 

Professor Doutor Amaral